quinta-feira, 6 de junho de 2013

Histórias e lendas de Santos


As três origens do nome da cidade de Santos.
Lisboa no século XVI: a doca de Alcântara, o porto fechado e ao fundo o porto de Santos, de onde aliás partiram Cabral e Martim Afonso.
Existem três explicações para a origem do nome da cidade, conforme lembram as autoras de Santos - Um Encontro com a História e a Geografia (1.992), Angela Maria Gonçalves Frigerio, Wilma Therezinha Fernandes de Andrade e Yza Fava de Oliveira:
Lisboa no século XVI: a doca de Alcântara, o porto fechado e ao fundo o porto de Santos, de onde aliás partiram Cabral e Martim Afonso.
"A primeira diz que Santos vem do nome do hospital de Todos os Santos da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia, fundada por Braz Cubas, em 1.543, segundo informação de Frei Gaspar.
"Na segunda explicação, o nome de um dos portos de Lisboa, o porto de Santos, teria sido dado à Vila, conforme Francisco Martins dos Santos. Esta explicação é reforçada pela semelhança geográfica entre a localização do porto de Santos, em Lisboa, no rio Tejo, e do porto de Santos, no lagamar do Enguaguaçu.
"A terceira versão diz que o nome foi dado pelo navegador português João Dias de Solis, a serviço da Espanha. Indo para o Sul, descobriu o Rio da Prata e passou antes por um rio, que chamou dos Santos Inocentes, localizado a 23º e 1/4 de Latitude Sul (seria a entrada do porto de Santos). A descoberta deu-se em 1515, no dia 28 de dezembro. No calendário cristão é o dia dos Santos Inocentes, aqueles meninos que foram mortos por ordem do cruel Herodes, que planejava matar o Menino Jesus. Com o tempo, o Rio dos Santos Inocentes passou a ser chamado de Rio de Santos".
Mapa do fim do século XVI, conservado em Lisboa, citando a Vila do Porto de Santos
Explicação de Francisco Martins - A tese de que o nome Santos tem origem no porto lisboeta é defendida pelo historiador Francisco Martins dos Santos, que contradiz Frei Gaspar da Madre de Deus, explicando que a ligação com o nome do hospital só surgiu na obra do próprio Frei Gaspar:
"Baseava-se então Frei Gaspar, de fato muito respeitável, exclusivamente na tradição oral, por ele colhida em sua época, mas principalmente junto aos frades do Carmo, fonte regularmente suspeita no assunto, sem que um documento sequer viesse fundamentar a sua afirmação ou as suas afirmações naquele trecho contidas, todas igualmente sem base documental".
Continua Francisco Martins, demonstrando que o lisboeta Hospital de Todos os Santos era uma instituição oficial, conhecida como Hospital de S. João Evangelista, que em 27 de junho de 1.564 foi entregue à Misericórdia de Lisboa, e portanto só a partir dessa data poderia influir na denominação de algum hospital da Misericórdia que se fundasse no Brasil. Reforçando sua opinião, o historiador demonstra que o Hospital de Santos nunca foi citado com o nome de Todos os Santos em qualquer documento do século XVI, aparecendo sempre e apenas como Hospital, Casa de Saúde, Casa de Misericórdia, Casa de Pia ou Casa Santa e Casa Santa de Misericórdia. Além de não ter registros escritos, o nome Todos os Santos também não foi de uso popular.
Planta de Lisboa quinhentista que indica o porto de Santos, descrito por Damião de Góis, o cronista de D. João II.











Após essas afirmações, o historiador passa a explicar o que considera a verdadeira origem do nome Santos: "Lisboa era o modelo do Brasil (no século XVI), afirmou o professor Ernesto de Sousa Campos em sua obra (...) e era mesmo. Manifestava-se o fenômeno mas muitas vezes e de vários modos, principalmente no setor de denominações, umas adotadas por afinidades pessoais, pelo desejo de homenagear o homem e a santos da Igreja, e outros por simples cópia e imitação, por tradição, por sentimento patriótico ou regionalista, por semelhanças topográficas e ecológicas e até por saudade, estando os homens (povoadores, moradores, fundadores, dirigentes, administradores, políticos, autoridades) quase sempre em função daqueles sentimentos e daquelas razões.
"(...) Pois quando se processou a mudança do porto oficial da Capitania (que era o "Porto de São Vicente" a que aludia Frei Gaspar), deslocado da Ponta da Praia para o lagamar de Enguaguaçu, logo em seguida, em 1.542 com certeza, o novo porto e, com ele, a povoação já existente e sob o nome do lagamar vizinho, passou a ser chamado Porto de Santos, por várias daquelas razões: por semelhança topográfica, por cópia e imitação, por sentimento patriótico ou regionalista e por saudade - e isto porque o porto tradicional de Lisboa, o mais antigo, o mais populoso e o mais movimentado, que se situava num dos mais antigos distritos da velha cidade, chamava-se exatamente Porto de Santos, acompanhando o nome do próprio distrito ocidental de que fazia parte - o Distrito de Santos. Os dois portos vizinhos, de Lisboa, eram o de Alcântara e o de Santos: o primeiro, intramuros (fechado), e o segundo, aberto ou franco (doca)."
Citando o relato quinhentista de Fernão Lopes, na Crônica de D. Fernando, o historiador destaca que defronte a Lisboa "a selva dos navios era tamanha que as barcas da outra banda não podiam cruzar entre elas e ir tomar em Santos". O nome foi trazido ao Brasil pelos povoadores, muitos deles embarcados naquele porto ou moradores na capital lisboeta, e já consta, por exemplo, na escritura de 9 de abril de 1.544 (20 anos antes da transferência do hospital lisboeta de Todos os Santos para a Misericórdia), de venda de terras de Antonio da Pena a Braz Cubas: "...apareceu hi de hua parte Braz Cubas e de outra parte Antonio da Pena ambos moradores e na povoação de Santos, termo desta Vila que tudo hé dentro desta ilha, e logo... etc....... qual terra está junto a povoação de Santos".
Francisco Martins cita ainda dois documentos de 1.545 em que já era usado o topônimo Santos na geografia vicentina, provando que ele já era usado normalmente pelo menos desde a transferência do porto da Ponta da Praia para o lagamar de Enguaguaçu em 1.541.
Ampliação mostra a semelhança entre esse porto lisboeta e o brasileiro.
"Por isso mesmo, alguns documentos importantes (..) aludiam à Vila do Porto de Santos, e não apenas à Vila de Santos. demonstravam claramente que o porto fora o veículo do nome, e que esse nome fora conseqüência da mudança do porto antigo (da Ponta da Praia) para o novo lugar interiorizado e a oito quilômetros de distância". Francisco Martins completa sua exposição mostrando a semelhança geográfica entre os portos de Santos na ilha de S. Vicente e em Lisboa.
Termina: "Entre a invenção de um hospital de Todos os Santos, que não existiu na terra de Braz Cubas e dos Adornos, e o raciocínio lógico com tantas bases sociológicas, geográficas, topográficas e sentimentais, nós preferimos o raciocínio; resta que os estudiosos e os cultos nos acompanhem". Vale explicar que o centenário hospital Santa Casa de Misericórdia de Santos, centro dessa polêmica, também nunca se chamou "de Todos os Santos".
http://www.novomilenio.inf.br/santos/lendasnm.htm


O Porto de Santos nasceu junto com a colonização do Brasil. Braz Cubas veio para o Brasil na expedição colonizadora de Martin Afonso de Souza, em 1.532. Foi dele a ideia de transferir o porto da baía de Santos para o interior do canal, em águas protegidas do vento e das ondas, e também do ataque de piratas, que saqueavam com frequência os povoados do litoral brasileiro. As vilas de São Vicente e de Santos progrediram. No lugar chamado Enguaguaçu, no canal, logo se formou um povoado, motivo para a construção de uma capela e de um hospital, cujas obras se concluíram em 1.543. O hospital recebeu o nome de Casa da Misericórdia de Todos os Santos. Em 1.546, o povoado foi elevado à condição de Vila do Porto de Santos. Em 1.550 instalou-se a Alfândega.



Na imagem, um desenho de 1.615 mostrando a Vila, de De Bry, Holanda. Documentação da viagem do navegador e corsário holandês Jorin Van Spielbergen




O marco oficial da inauguração do Porto de Santos é 2 de fevereiro de 1.892, quando a então Companhia Docas de Santos - CDS, entregou à navegação mundial os primeiros 260 m de cais construídos (foto) no Valongo, como até hoje denominada aquela área o Centro da cidade.
Naquela data, pela primeira vez, atracou no novo e moderno cais, um vapor. Era o "Nasmith", de bandeira inglesa.
Com a inauguração, iniciou-se, também, uma nova fase para a vida da cidade, pois os velhos trapiches e pontes fincados em terrenos lodosos, foram sendo substituídos por aterros e muralhas de pedra. Uma via férrea de bitola de 1,60 m e novos armazéns para guarda de mercadorias, compunham as obras do porto organizado nascente, que se tornaria muito diferente do antigo.

Por mais de três séculos e meio, o Porto de Santos, embora tivesse crescido, tinha o mínimo de mecanização e muito trabalho físico.
Além disso, as condições de higiene e salubridade do porto e da cidade resultaram altamente comprometidas, propiciando o aparecimento de epidemias (na imagem, os trapiches de embarque antes do porto moderno). O início da operação, em 1.867, da São Paulo Railway, ligando, por via ferroviária, a região da Baixada Santista ao Planalto, estimulou o desenvolvimento da cidade. A cultura do café estendia-se, na ocasião, por todo o Planalto Paulista, atingindo até algumas áreas da Baixada Santista, o que exigia a ampliação e modernização das instalações portuárias.
Em 12 de julho de 1.888, ainda no tempo do Império, o grupo liderado por Cândido Gaffrée e Eduardo Guinle foi autorizado a construir e explorar, por 90 anos, o Porto de Santos. Para isso, criaram a Companhia Docas de Santos, que tinha sede no Rio de Janeiro. Inaugurado em 1.892, o novo porto não parou mais de crescer. Já são mais de cem anos.
Açúcar, café, laranja, algodão, adubo, carvão, trigo, sucos cítricos, soja, veículos, granéis líquidos diversos, em milhões de quilos, é o cotidiano do porto, que já movimentou mais de 1 bilhão de toneladas de cargas até hoje.
Em 1.980, com o término do período legal de concessão da exploração do porto pela Companhia Docas de Santos, o Governo Federal criou a Companhia Docas do Estado de S. Paulo - Codesp, que administra o complexo santista e é também a Autoridade Portuária.
Na imagem, o porto por volta de 1.975. 
Atualmente, o Porto de Santos é o principal porto brasileiro e latino-americano. Movimenta, por ano, mais de 60 milhões de toneladas de cargas, número inimaginável em 1.892, quando operou 125 mil toneladas. Com 13 quilômetros de cais, entre as duas margens do canal estuário de Santos, o porto entrou em nova fase de exploração em 1.993, com arrendamento de áreas e instalações a empresas privadas, mediante concorrências públicas.
Na imagem, uma vista aérea do canal do estuário e do Porto de Santos. 



Foto aérea mostrando o canal do estuário do Porto, ao longo do qual foi construído o cais de atracação e demais instalações.

http://www.portodesantos.com.br/kids/historia.html#2

A clássica valsa lenta brasileira, Caprichos do Destino foi composta num prédio da rua santista Braz Cubas pela pianista Odette Duprat Fiuza (descendente do Barão de Duprat), que nasceu no Recife/PE e faleceu em 1.976 no Rio de Janeiro, tendo vivido em Santos de 1.918 a 1.936.
Imagem reproduzida do Almanaque da Baixada Santista - 1.976
Com letra do poeta Amil, a melodia venceu o concurso de Música Popular promovido em 1.923 pela Casa Edison nos salões do clube Miramar, sendo logo depois editada pela promotora desse festival. Em 1.928, a valsa santista foi gravada e editada pelos Irmãos Vitale e, desde então, foi regravada dezenas de vezes, inclusive na Argentina e na Espanha. Em 1.973, quando a valsa completou 50 anos de sucesso, a compositora foi homenageada pela gravadora Odeon e pelos editores Irmãos Vitale.
Esta é a letra:
I
Foi sempre assim...
No mar imenso da vida,
No frágil barco do amor,
Com uma pluma ou uma flor,
Vai, num balouçar contínuo e sem fim,
Minh'alma triste e dorida...
É um misticismo divino
O caprichoso destino!...
II
Muita vez eu fiquei a sonhar
Um sonho rosicler, só de ilusões de amor...
Como o vento que passa a chorar
Entre as ramagens e depois despetala a flor,
Esses sonhos também feneceram
Ao sopro dos caprichos do destino..
Sinto em minh'alma a saudade
Desses tempos tão lindos... dessa felicidade!...
http://www.novomilenio.inf.br/santos/lendasnm.htm


A empresa Sociedade Anônima Elevador Monte Serrat estabelecida no centro de Santos desde 1.927, fundada por imigrantes espanhóis para operar como cassino e entretenimento e cumpriu esta função por 19 anos a partir da sua inauguração. Situa-se no morro do Monte Serrat e realiza o transporte de visitantes e moradores ao alto do morro através de dois bondinhos que funcionam no sistema funicular.
Após a proibição do jogo no País pelo governo do Marechal Dutra em 1.946, tornou-se uma empresa familiar atuando nas áreas de turismo, transporte a atividades sócio-culturais.
O sistema de bondinhos foi planejado em 1.910 mas não foi então construído pelas dificuldades encontradas durante a Primeira Guerra Mundial, que prejudicou o transporte do material que vinha da Alemanha.A construção se iniciou em 1.923 e foi inaugurada em 01 de Junho de 1.927.
Cartão postal no acervo do pesquisador paulistano Werner Vana
Monte Serrat, ex-morro de São Jerônimo em 1.927/28 (logo após a inauguração do funicular mas pouco antes do desabamento parcial da encosta), vendo-se ainda ao fundo, à direita, as instalações antigas da Santa Casa de Misericórdia de Santos. Sobre a palavra "Santos" (na legenda do postal), o edifício no sopé do morro é uma instalação municipal do serviço de eletricidade, à direita da qual existe a Biquinha do Itororó e seu famoso jardim. Sobre a palavra "Matriz", no centro da parte inferior da foto, a Escola Barnabé, na Avenida São Francisco.
Imagem: acervo do professor e pesquisador santista Francisco Carballa
Outra reprodução desse postal permite observar melhor alguns detalhes da imagem, como a capela, a torre de rádio e o prédio do cassino.



Imagem: acervo do professor e pesquisador santista Francisco Carballa
Mais um detalhe, agora tendo ao fundo as instalações da Santa Casa e em primeiro plano o casario da Avenida São Francisco, em especial a escola Barnabé e o característico Edifício do Rádio. Esse local já foi conhecido como Rancho Grande dos Tropeiros.




Cartão postal no acervo do pesquisador paulistano Werner Vana

Instalações do funicular que dá acesso ao alto do morro.
Foto: reprodução de cartão postal de João Emílio Gerodetti e Carlos Cornejo, no livro Lembranças de São Paulo - imagem incluída no Calendário 2002 da Gráfica Guarani, de Santos/SP
Por volta de 1.925 o monte é visto neste cartão postal tendo à frente as torres da Bolsa do Café e da Western (menor), no Largo Senador Vergueiro, junto ao cais.
O Monte Serrat, também por volta de 1.925, visto desde a torre da Catedral da Praça José Bonifácio, tendo à esquerda, no sopé, as instalações do Corpo de Bombeiros e à direita, também no sopé, as instalações do funicular em construção (seria inaugurado em 1.927) e da Fonte do Itororó. Ao centro, o cruzamento das avenidas Senador Feijó e São Francisco.



Foto: reprodução de cartão postal de João Emílio Gerodetti e Carlos Cornejo, no livro
Lembranças de São Paulo - imagem incluída no Calendário 2002 da Gráfica Guarani, de Santos/SP






Imagem cedida a Novo Milênio por Ary O. Céllio
Em 1928, o prédio da empresa Águas do Itororó já estava erguido, e o cassino construído. A foto tem o mesmo ângulo de outro cartão postal mostrado acima (nos dois casos, a foto foi feita da torre da Catedral), vendo-se igualmente à esquerda o quartel dos bombeiros e ao centro a confluência das avenidas São Francisco e Senador Feijó com a praça José Bonifácio.

Logo após a instalação do funicular, ocorreria o desmoronamento de parte da encosta do morro, em 1.928. Em 1.930, antigo cartão postal mostrava a área já reconstruída e o trecho inicial do Caminho Monsenhor Moreira - a escadaria que daria acesso ao alto do morro.
Imagem cedida a Novo Milênio pelo historiador Waldir Rueda














Imagem: acervo do professor e pesquisador santista Francisco Carballa
Essa imagem também foi usada em outro cartão postal, do qual são aqui mostradas em detalhe as instalações do funicular no sopé do morro.












Imagem: acervo da empresa Cassino Elevador Monte Serrat, exposta no prédio do ex-cassino















Em 27 de dezembro de 1.926, era assinado pelos engenheiros este projeto da obra do funicular que seria instalado na encosta do Monte Serrat.
Imagem: acervo da empresa Cassino Elevador Mont Serrat
Visita ás obras da estação superior, no ano da inauguração em 1.907.















A festa de inauguração, em 4 de junho de 1.927.








http://www.novomilenio.inf.br/santos/fotos038.htm


O cassino do Monte Serrat foi construído no início do Século XX. Marcado pelo glamour, recebeu políticos influentes, como Julio Prestes, Dino Bueno e até presidentes da República. Os convidados subiam pelos bondinhos, que eram fechados com cortinas para a boemia santista, que em geral passava a noite jogando.
Conhecido no Brasil e no exterior, o cassino servia como ponto de referência para todos os visitantes da Cidade. Propriedade da família Vallejo - dona também dos bondinhos - recebia no auge cerca de 300 pessoas, diariamente. No entanto, em 1.946, com a proibição dos jogos de azar no País, ele foi interditado.
Cintia Ferreira http://www.blogcaicara.com/2010/03/cassino-monte-serrat.html


Do alto do Monte Serrat se tem uma linda vista da cidade de Santos.


A Pedra da Feiticeira
Olao Rodrigues (*)
Em 1.850, Santos pobrezinha!, era muito reduzida.
A atual Avenida Senador Feijó, com seu tráfego ininterrupto, fora do comum, não passava de simples caminho que saía da Rua do Rosário (João Pessoa), passava pelo Campos (depois Quadra Mauá e hoje Praça José Bonifácio), alcançava a 7 de Setembro, defluía para o lado direito, cruzava a atual Brás Cubas e eis depois a atingir, lá em cima, o Caminho da Barra, junto ao Caldeireiro ou o Rio dos Soldados, onde hoje se localiza a Avenida Campos Sales.
Seu Antoninho recebe a visita da feiticeira, sua mãe!

A chácara de Dona Angelina era o derradeiro reduto da Cidade de 130 anos atrás. O resto não passava de mato e mato selvagem que afluía ao Monte Serrate e onde pedrouços se aglomeravam, recamados de limo e folhagem, formando a paisagem da atual e sofisticada Senador Feijó. Depois da velha chácara, o mato que Braz Cubas encontrou ao chegar à nossa terra ainda continuava como então, denso, respeitável e virgem.
A chamada Pedra da Feiticeira fica justamente nesse ponto, na junção da barreira formada pela chácara, hoje Rua Tiro Naval, pouco aquém das Duas Pedras, onde havia pequena cachoeira. O Buraco da Velha ficava-lhe a cavaleiro, à altura do local agora ocupado pelo Depósito de Obras da Prefeitura Municipal, no Largo 7 de Setembro.
Era ali, leitores, que vivia uma velha horrenda, segregada de qualquer contato social. Mulher idosa, alquebrada, desgrenhada, extravagante, envergando sempre uma bata de algodão, com uma cobertura de palha à guisa de chapéu amarrado à cabeça. Quem era ela ninguém sabia, porque ninguém dela se aproximava. Não saía durante o dia, senão a horas tardias da noite, arrastando-se com seus mulambos, sempre desacompanhada, sempre misteriosa. Parecia ente fantástico. Quem porventura lhe cruzasse o caminho, fugia espavorido ante a deformidade do seu aspecto físico.
Era uma bruxa!
Diziam que Dona Angelina, mulher generosa, sustentava esse arremedo humano, que muitos afirmavam haver visto em seus bruxedos sobre a pedra famosa, horas mortas, a saltar sobre o fogo, a gargalhar, a dizer palavras incompreensíveis e espargindo água e cinza sobre as labaredas.
Retrocedamos 70 anos, quando na Vila estourou escândalo que abalou a pequena sociedade. Uma viúva, que gozava de bom conceito, mãe de dois filhos e filha, por sua vez, de família importante, havia cedido à tentação de um militar de passagem para o Sul. Prevaricou. Apaixonando-se pelo soldado, abandonou os filhos e saiu à procura do seu conquistador. E nunca mais dela se teve notícia.
Quanto aos filhos, guardando o estigma de um crime que não cometeram, foram criados por parentes, aliás, mal criados, quase passando fome até que a filha, minada pela tuberculose, veio a falecer. Quanto ao rapazelho, fez-se homem respeitável, tornando-se Despachante Geral da Alfândega.
Seu Antoninho, como era chamado, homem de posses, vivia comodamente, solteirão, servido por uma governanta, morando na Rua de São Francisco de Paula. Era um bom. Dividia com os pobres boa parte do que ganhava, mas humilde em seus gestos de munificência, escondendo sempre a mão doadora.
Era 1.850. Antoninho adoeceu seriamente, e a notícia consternou a população toda, que o estimava pelo caráter retilíneo e generosidade humílima. D. Angelina, por todos respeitada, foi visitar o Seu Antoninho. Viajou de coche, falou rapidamente com o enfermo e chamou à parte a preta serviçal, dando-lhe qualquer recomendação. Logo depois retornou à sua chácara.
Naquela noite, houve alvoroço na Cidade. Corria a notícia de que Seu Antoninho, com seu estado agravado, aguardava a morte. Muita gente afluiu à residência do bom homem, que contava 52 anos de idade. Essa gente também viu a bruxa da Pedra da Feiticeira a penetrar na casa do Seu Antoninho e fechar-se no quarto do moribundo.
- "A Feiticeira! A Feiticeira está lá dentro!"
- "Credo! Cruz! A Bruxa da Pedra!"
- "Nossa Senhora do Monte Serrate proteja o Seu Antoninho!"
Na verdade, lá estava a bruxa, levada pelas mãos de D. Angelina, que se acercou do enfermo e falou-lhe:
- "Seu Antoninho, sua mãe quer vê-lo!"
- "Minha mãe? Não tenho mãe há tantos anos!"
Foi quando a feiticeira se aproximou do leito, ajoelhou-se e exclamou;
- "Meu filho! Meu filho! Perdoa-me!"
O moribundo ainda teve forças para dizer:
- "A Feiticeira da Pedra, meu Deus!"
D. Angelina, ajudando-o a repousar a cabeça no travesseiro, asseverou com convicção:
- "É, sim, é sua mãe, Seu Antoninho. É ela. Tem sofrido muito. Perdoa-lhe".
- "Minha mãe! E eu que dei tantas esmolas à minha própria mãe!"
Subitamente, como se uma inspiração divina o alentasse, balbuciou:
- "Minha mãe! Minha mãe!"
- "Meu filho!"
Mãe e filho abraçaram-se enquanto soluços e lágrimas se misturaram na sala em penumbra.
A nova estourou em toda a Cidade:
- "A Feiticeira é a mãe do Seu Antoninho!"
Naquela mesma noite, seu Antoninho, o homem boníssimo, amigo de todos, o filantropo, o filho da mulher repelente e desgrenhada, entregou a alma à mansão dos justos.
Dias depois, numa árvore, junto ao Buraco da Velha, foi encontrado o corpo, já em decomposição, daquela que o povo entendia como feiticeira, a bruxa, a repugnante, a prevaricadora, mas que era mãe, e mãe de um santo homem!
(*) O falecido escritor Olao Rodrigues foi autor de diversos livros publicados em Santos/SP, entre eles a Cartilha da História de Santos, de 1.980, da qual foi extraída esta história.

http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0002.htm

Havia em Santos um cozinheiro famoso, proprietário de um restaurante que, nem por muito afreguezado, deixava de sofrer agudas crises financeiras. Numa delas resolveu o rival de Brillat Savarin atear fogo ao estabelecimento para receber a quantia do seguro.
Ilustração original do 'Almanhaque'
Pensou e executou.
Por entre as prateleiras da casa meteu boa quantidade de estopa abeberada em querosene. Um fósforo aceso fez o resto. Quando as primeiras chamas ensaiavam a tarefa destruidora, o Miguel, mais cedo do que devera, foi para o meio da rua a gritar que estava perdido, a clamar por socorro, que veio muito mais depressa do que deveria ter vindo. Os bombeiros tiraram a estopa e era uma vez um seguro...
Isto, porém, não o livrou do processo e do júri.
O Miguel era alto. Magríssimo. Pretíssimo. Usava óculos.
Apresentou-se perante o tribunal excentricamente vestido. Seu advogado era Martim Francisco de Andrada, que assim começou a defesa:
- "Senhores: Conheceis o Miguel, que não contente de afrontar a majestade deste tribunal com a sua sobrecasaca cor de louva-a-Deus, desafia as minhas convicções monárquicas com essa gravata republicana? Não conheceis? É o primeiro cozinheiro de Santos, mas não sabe fazer fogo!"
O réu foi unanimemente absolvido.

A. de C. M
http://www.novomilenio.inf.br/santos/lendasnm.htm

Em 1.900, o Mercado Provisório já não existia, estando as autoridades santistas empenhadas em construir um novo e definitivo, na Vila Nova, que era então o bairro mais elegante de Santos. Inaugurado em 1.902, o Mercado Municipal, da Praça Iguatemi Martins, foi reconstruído em 1947, ampliado em 1955 (ganhando o segundo andar e o pavilhão de pescado), e terminou o século XX ainda em funcionamento.
Mercado Municipal de 1902, construído no bairro Vila Nova, visto do Canal do Mercado
Foto enviada a Novo Milênio por Ary O. Céllio
Com a expansão da cidade, foram criados os chamados Mercadinhos em bairros como a Vila Mathias (extinto anos depois), o Marapé e Macuco, ainda em funcionamento no início do século XXI.
Em outubro de 1.972, foi instalado em Santos o primeiro supermercado, o Eldorado  (depois vendido à rede francesa Carrefour, na Av. Conselheiro Nébias) no bairro do Boqueirão, e os novos hábitos de consumo provocaram a diminuição da afluência do público ao Mercado Municipal, que aos poucos vai sendo transformado internamente para abrigar repartições municipais e outras atividades.
                                                       Supermercados Luiz XV
            Anúncio publicado em 22 de dezembro de 1960 no jornal santista A Tribuna - página 3
Em 23/10/2005, o internauta A. C. Damy enviou mensagem eletrônica a Novo Milênio informando que, na verdade, "o primeiro supermercado de Santos funcionou na Rua Braz Cubas, esquina da 7 de setembro, e se chamava supermercados Luiz XV S/A. de propriedade da familia Flores, herdeiros da Leoneza de Conservas. Portanto um supermercado 100 por cento santista".
Televisão Luiz ZV, produzida pela empresa e vendida em sua loja
Anúncio publicado no jornal santista A Tribuna em 27 de abril de 1952

                                                      
    Supermercados Peralta
                                                                                           Anúncio publicado no jornal Cidade de Santos de 8 de julho de 1973, página 19
Em 22/2/2007, o advogado Antonio Carlos Bley Pizarro complementou a informação: "O primeiro supermercado de Santos foi o Pão de Açúcar na Avenida Ana Costa, onde hoje funciona a loja da Kalunga, inaugurado na segunda metade da década de 60 (entre 1966 e 1968). O mercado Luiz XV S/A foi o primeiro estabelecimento de varejo alimentício, em Santos, que adotou o sistema pegue e pague, usando fileira de caixas registradoras para o processo de contabilização de mercadoria e pagamento. Inclusive, após o expediente comercial, a empresa fabricante das máquinas oferecia às senhoras um curso para seu manejo, o que chamaríamos hoje de um curso de capacitação. Quanto ao Eldorado, ele foi inaugurado no final de 1974 e era codinominado hipermercado".
Hipermercado Eldorado
Anúncio publicado em 4 de fevereiro de 1995 no jornal santista A Tribuna

http://www.novomilenio.inf.br/santos/lendasnm.htm

O Chave de Ouro funcionou pela última vez em uma quarta-feira, 31/8/1.977. O editor de Novo Milênio registrou assim, nas páginas do antigo jornal Cidade de Santos (no dia seguinte, em 1º de setembro de 1.977) o fim do famoso restaurante:
O velho Chave de Ouro fechou suas portas definitivamente 
Foto: jornal Cidade de Santos, 1/9/1.977
Adeus ao velho Chave de Ouro
Ontem(01/09/1.977), pela última vez, o santista teve a oportunidade de almoçar ou jantar em um ambiente de início-de-século no tradicional restaurante Chave de Ouro (Golden Key), localizado  no final da Rua General Câmara, fundado em 1.912, aquele restaurante conservava em perfeito estado a mobília usada na época de sua fundação, que a partir de hoje está sendo cuidadosamente desmontada e
levada para o restaurante do ITA - Instituto de Tecnologia da Aeronáutica, em São José dos Campos. Foi vendida àquele Instituto por Cr$ 400 mil, apesar da acirrada concorrência feita por um grupo de empresários paulistas e mesmo pela Sectur - Secretaria de Turismo, Cultura e Esportes de Santos.
Durante os próximos seis meses, o restaurante ficará fechado para reformas, permanecendo aberto o bar anexo, recentemente inaugurado. A área onde o restaurante estava instalado será adaptada para o funcionamento de uma lanchonete em estilo moderno, após a remoção do atual mobiliário, que deverá terminar na próxima segunda-feira.
José Raimundo Alves, proprietário do estabelecimento, diz que "embora gostasse do mobiliário antigo, comercialmente isso estava afugentando a freguesia. Na época de sua fundação, não havia ainda essas boates todas e muitas famílias faziam suas refeições aqui. Depois, a região se modificou e o tipo de freguesia também. Se antes vinham as famílias e os marinheiros, agora só vinham os marinheiros. O pessoal passou a querer algo mais moderno.
Além disso, um fator importante da mudança foi o anúncio de que o traçado da Avenida Portuária iria cortar parte da área do restaurante. Então, montamos o bar em julho, na parte da frente (na Rua João Otávio) e agora vamos reformar o restaurante. Um dos problemas também era que o bar recentemente inaugurado estava dando lucro maior que o tradicional restaurante".
José Raimundo diz que a montagem antiga do restaurante afastava a freguesia porque dava a impressão de ser aquele um estabelecimento formal, fechado, que cobrasse preços altos. "Uma aparência mais simples, como uma lanchonete, funciona mais, atualmente. Ainda não escolhi a nova decoração, mas o nome permanecerá o mesmo, e deveremos continuar com os 25 empregados que temos atualmente. Talvez, quando tiver sido montada a lanchonete, precisemos de mais".
O Chave de Ouro era, até ontem, um restaurante muito procurado por marinheiros e turistas, tendo sido também local utilizado para filmagens e comerciais de televisão. As refeições eram servidas com talheres de prata, sendo a especialidade constituída por peixes e frutos do mar, além da cozinha internacional. O proprietário conta ainda que "procurado por oficiais de navios, e mesmo por toda a tripulação, quando os navios americanos aportavam, aquele restaurante era considerado como uma casa de confiança do gringo, que muitas vezes ali deixava seus valores, guardados no cofre".
José Raimundo conta ainda que "todo cuidado está sendo adotado na remoção das instalações, para que nenhum vidro sequer seja quebrado. Inclusive os espelhos existentes nas paredes, que faziam, há 40 anos atrás, a propaganda dos Productos Insuperáveis os da Empresa Águas do Itororó - uma cervejaria que existia junto à subida do Monte Serrat da época".
                          Cartão-de-visita do Chave de Ouro
Acervo de Novo Milênio
Este jornalista voltou ao tema alguns dias depois, na edição de 5 de setembro de 1.977 do mesmo jornal Cidade de Santos:
O Chave de Ouro abandona o mobiliário tradicional
Foto: jornal Cidade de Santos, 5/9/1.977




O fim dos restaurantes tradicionais
Leiteria São João, Bodega, Adega Central, Casa Espéria, Vasco da Gama. Nomes que pertencem ao passado. Como esses, muitos tradicionais restaurantes da cidade estão em vias de fechamento, terminando assim diversos dos tradicionais pontos de encontro de escritores, políticos, advogados e comerciantes, que discutiam suas idéias e acertavam seus negócios ao mesmo tempo em que calmamente faziam as suas refeições.
Enquanto isso, surgem cada vez mais lanchonetes, churrascarias e pizzarias - que ganham a preferência do apressado santista - ou os serviços de buffet, para reuniões mais formais.
Um dos mais antigos restaurantes da cidade é a Churrascaria São Paulo, no final da Avenida Washington Luiz, fundado há 45 anos com o nome de Bar São Paulo. Quando foi adquirido por seus atuais proprietários, além do novo nome, o estabelecimento ganhou também a condição de restaurante Classe A, como se mantém até hoje.
Roberto Gonzalez, co-proprietário do restaurante, diz que ali vão geralmente pessoas de classes mais altas economicamente. Geralmente, como em todos os restaurantes da orla da praia, o maior movimento é registrado nos fins de semana, sendo que o prato mais procurado é a paella, de origem espanhola, que consiste em arroz com todos os frutos do mar, filé mignon, frango e lombo de porco (custa Cr$ 70,00 a porção, que dá para duas pessoas). Ali, o prato mais caro é a lagosta, que custa Cr$ 150,00 a porção, havendo pratos mais populares, como a sopa de ervilhas ou tomate, ao preço de Cr$ 25,00.
Roberto Gonzalez conta que esteve na Europa recentemente e pôde observar que também lá os restaurantes tradicionais estão desaparecendo: "Na Europa, o que mais existe é lanchonete, principalmente em Barcelona. Lanchonete serve pratos mais rápidos, mais simples e baratos. A pessoa vai, come um sanduíche. Restaurante é para pessoa que tem mais tempo, que pode comer descansada".
                    Cartão-de-visita do Restaurante São Paulo
Acervo de Novo Milênio
"Está tudo caríssimo" - Há aproximadamente 15 anos, funciona na Avenida Bernardino de Campos, esquina com a Rua Joaquim Távora, o restaurante Casca Arame. Álvaro Alvarez, um dos proprietários, conta que um dos motivos por que os restaurantes estão cedendo seus lugares às lanchonetes é o custo de vida:
"Está tudo caríssimo. O restaurante não está suportando mais a despesa. O maior movimento é nos fins de semana, quando as famílias vêm almoçar ou jantar, embora antigamente houvesse muito mais gente. Para o atendimento, temos que ter diversos garçons, cozinheiros, todos sob contrato de trabalho, enquanto na lanchonete não é necessário tanta gente. Também agora as pessoas não têm mais condições de reformar os restaurantes, para mantê-los funcionando e atrair a freguesia. As pessoas estão montando mais lanchonetes para atender o público, por isso a tendência é os restaurantes irem fechando, serem cada vez menos.
Aqui o prato mais caro é o camarão à grega, custando Cr$ 85,00 a porção, enquanto que a pescadinha frita ou grelhada custa apenas Cr$ 25,00. O prato preferido é o filé à francesa ou à cubana, embora todos sejam procurados, inclusive nossa variedade de pizzas. Camarão antigamente vendia muito, hoje é mais difícil".
Estes mudaram - Com o término do mês de agosto, veio também o fim do tradicional Golden Key (Chave de Ouro), que agora ficará fechado durante seis meses para reformas, quando todo seu mobiliário, conservado desde a inauguração em 1.912, será trocado por instalações modernas, passando o Golden Key a funcionar como bar-lanchonete.
Chave de Ouro, em primeiro plano na esquina da Rua General Câmara,
e os estabelecimentos da Rua João Otávio
Foto: Sérgio Eluf
Preparando-se para a mudança nas instalações, a direção montou na parte da frente do estabelecimento (na Rua João Otávio, 8 - esquina com Rua General Câmara) um moderno bar, que já está dando lucro muito superior ao proporcionado pelo restaurante. Agora, tendo a mobília sido vendida para o restaurante do ITA - Instituto de Tecnologia da Aeronáutica de São José dos Campos - será feita a reforma, instalando-se uma decoração mais moderna.
No antigo Chave de Ouro, em meio a um ambiente que lembrava o início do século, jantavam representantes de todas as classes sociais e profissionais: advogados, delegados, estivadores, turistas, juízes e políticos. Comerciais de televisão e outras filmagens já foram ali realizadas. Muito procurado por famílias inteiras, que ali faziam suas refeições utilizando talheres de prata, ultimamente era mais procurado por marinheiros.
"O movimento caiu muito, as pessoas querem mais coisas modernas, preferem lanchonete. Recentemente, montamos um bar na frente que está faturando muito mais. Além disso, as obras da avenida Portuária deverão tomar parte da área do estabelecimento, diminuindo o espaço", diz Ruth, que há muitos anos trabalha na caixa do Chave de Ouro.
                                  Cartão-de-visita do Roma
    Acervo de Novo Milênio
Já o tradicional restaurante Roma, situado na Rua Frei Gaspar, 49, em pleno centro cafeeiro e bancário, após funcionar durante mais de 35 anos como restaurante apenas, passou a atuar também no setor de buffet, devendo brevemente inaugurar um salão para esse fim na Avenida Ana Costa, 148.
Lino Marques Pereira, atual proprietário, conta que "em 1.970, quando eu comprei o restaurante, o proprietário anterior vendeu por não ter serviço. Reformei a casa ao comprar e com isso a freguesia aumentou, também devido ao atendimento, que foi aprimorado, sendo em 1.974 montado o Buffet Roma.
O restaurante é procurado mais pela Classe A, embora os pratos mais preferidos sejam as massas, a feijoada. O prato mais caro é o camarão à grega (Cr$ 100,00), sendo o mais barato o prato do dia (Cr$ 30,00). Não servimos refeição comercial. De qualquer forma, o que costumam sair mais são sempre os melhores pratos.
"Não acredito que os restaurantes estejam no caminho da extinção. Pessoal de lanchonete vai freqüentar lanchonete. Entretanto, pessoal que gosta de sentar a uma mesa, e pedir o que quer, vai manter a tradição. Com a idade, a pessoa vai querendo restaurantes melhores. Os restaurantes podem ir diminuindo, mas os que se aprimorarem continuarão. O que vai haver é uma tendência do aumento do número de lanchonetes.
"Durante todos esses anos, devido à pressa dos fregueses, passaram a surgir os pratos do dia, para facilitar ao freguês. De uns 10 anos para cá, quase todos os restaurantes passaram a manter dois pratos, como sendo principais no dia. Não que esses pratos sejam inferiores, são pratos comuns, escolhidos do cardápio, que recebem então essa denominação, para que o atendimento seja mais rápido.
"Outra modificação na sistemática dos restaurantes foi na cozinha. Antes, para se preparar um prato, todos os molhos eram feitos na hora, hoje eles são conservados prontos. Se antes um prato difícil demorava uma hora para ser feito, atualmente o mais difícil fica pronto em vinte minutos. Aqui o maior movimento, como nos restaurantes do centro da cidade, ocorre na hora do almoço; fora desse horário o movimento é só no balcão, na parte de lanches. Por isso, não costumamos colocar música, já que a maioria dos fregueses quer mesmo é conversar. Música só funciona nos restaurantes da praia".
Lino Marques diz ainda: "Para melhorar o movimento, um restaurante deve cuidar da aparência e do atendimento, só a tradição não basta. A tradição é importante porque, se o restaurante é conhecido, acaba sendo visitado. Mas se não agradar, o freguês não volta. Uma saída para a diminuição do movimento é os restaurantes trabalharem mais na parte de churrascaria e pizzaria, ou criarem serviços de buffet, se tiverem gabarito para isso".
Enquanto outros restaurantes enfrentam tristes perspectivas, o Café Paulista, na Rua do Comércio, recebe grande movimento constituído principalmente por políticos e advogados, sendo por isso conhecido como "Senadinho Santista". Fundado em 25 de março de 1.911, seu atual dono tem a mesma idade do estabelecimento. Os pratos mais caros são o camarão à grega (Cr$ 100,00) e o estrogonofe (Cr$ 110,00), sendo as massas os pratos mais baratos. Peixes e carnes são os preferidos, sendo também muito conhecido o cuscuz à paulista.

Segundo os responsáveis pelo restaurante, os costumes mudaram muito pouco, com relação à comida: "Quanto às bebidas, o vinho vem sendo popularizado, embora a preferência seja ainda por águas minerais e cerveja. Na praia é mais vendido vinho. Um dos motivos da queda de movimento nos restaurantes em geral é o desvio do turismo, que antes passava por Santos, a caminho de Guarujá, e agora vai por Piaçaguera. O que sobra em Santos é o farofeiro, enquanto em Guarujá os restaurantes estão se expandindo.
"Em Santos, o que vem aumentando é o número de lanchonetes. Outro motivo é o surgimento recente das pizzarias e churrascarias, que também vêm se expandindo, por serum serviço muito mais barato e econômico. Apesar de tudo, entretanto, muitos tradicionais restaurantes continuarão se mantendo, como o Marreiro, do início do século, na Avenida Bernardino de Campos; o Almeida, na Vila Mathias; o Roky, na Praça dos Andradas; o Café D'Oeste, também muito antigo, na Praça José Bonifácio, e alguns outros".
  O Marreiro, restaurante do início do século XX, era um dos poucos 
que ainda se mantinham em 1977, na Avenida Bernardino de Campos
Foto: jornal Cidade de Santos, 5/9/1.977
Bastante sentido na época foi o fechamento do restaurante Don Fabrizio, em conseqüência da demolição do antigo edifício Lutécia - na esquina da Avenida Ana Costa com a Rua Claudio Doneux -, em cujo andar térreo estava instalado.
Registrou o jornal A Tribuna em 12/3/1.980 o lamento do Sindicato de Hotéis e Similares de Santos: "Não foi só uma grande perda para a nossa coletividade como para nossa Santos, o fechamento de um estabelecimento do mais alto gabarito, que mantinha através dos seus proprietários, como ponto de honra, um atendimento aprimorado e irrepreensível à sua seleta clientela".
De fato, o estabelecimento de Fabrizio Tatini e seus filhos, também com instalações em São Paulo, era ponto de referência para encontros com autoridades e outras personalidades que visitavam a cidade.
  Cartão de visita do Don Fabrizio Acervo de Novo Milênio
  Foto: Carlos Marques, publicada no jornal A Tribuna em 12 de agosto de 2.006
Restaurante Almeida, "o que nunca fecha", não abriu em 11/8/2.006, no Dia do Pindura anual dos estudantes de Direito. Também costuma fechar nos feriados de Natal e Ano Novo.




Restaurante Jangadeiro

Publicado no jornal santista O Diário, em 16 de junho de 1957, seção 1ª, página 19

http://www.novomilenio.inf.br/santos/lendasnm.htm

Na última década, a população da Ponta da Praia simplesmente dobrou: dos 19.367 habitantes registrados pelo Censo de 1.970, passou-se para 41.811 em 1.980. De repente, muita gente começou a optar por esse bairro, que se distingue dos demais, entre outras coisas, por registrar temperaturas dois ou três graus abaixo da média de Santos.
Isso mesmo, para quem não sabe, o vento que sopra do mar, de Sudeste para Leste, faz com que lá seja o lugar mais fresco de Santos. Muitos que ouvem isso logo atribuem conotação pejorativa ao termo fresco, já que se trata de um dos bairros mais valorizados da orla da praia e concentra dezenas de mansões.
Mas, deixando as brincadeiras de lado, ninguém pode negar que o bairro tem muitos atrativos: a simples vista do mar refletindo o sol é um espetáculo inesquecível, sem contar as cenas pitorescas que proporcionam os navios entrando e saindo do estuário e os barcos de pesca ancorados junto à Ponte dos Práticos.
Há ainda o Aquário, o Museu de Pesca, o ferry-boat, mas tem também lugares que não constam de cartões postais, como as favelinhas de Vila Ogarita. Nessa vila, os moradores dão exemplo de força e resistência, pois há mais de 40 anos lutam pela posse da terra. O problema vem se arrastando por anos e anos, e por causa de toda essa situação a vila não foi urbanizada.
Vento que sopra do mar faz da Ponta da Praia um bairro de temperatura amena
O Nenê nunca falhava. Ficava de prontidão, observando o mar. O bagre que passasse estava perdido: num gesto rápido ele arremessava a lança e o peixe já vinha sangrando, colorindo de vermelho a água verde e límpida.
Pois é. Naquele tempo, uns 50 anos atrás, o mar era tão transparente que o Nenê conseguia enxergar o peixe no fundo e pescar com a maior tranqüilidade da Ponte dos Práticos. Só que, na época, a ponte era de madeira e rangia sob os passos seguros do prático Quíncio Peirão, que dá nome a uma das ruas do bairro onde viveu e ganhou fama.
Que diferença a Ponta da Praia dos primeiros anos do século! Muitas chácaras, mato, campos de várzea e crianças que tiveram uma infância de fazer inveja a qualquer um. Viviam soltas naquele imenso descampado urbano, e os meninos que frequentavam o Saldanha (fundado em 1.903) nadavam tão bem a ponto de seguirem num barquinho caipira e virá-lo quando estavam bem no meio do canal do Estuário. Pura farra quando caíam no mar, com barco e tudo.
Quem enche os olhos de alegria contando passagens como essa é Áttila Cazal, que cresceu na Ponta da Praia ao lado de figuras não menos conhecidas como o almirante Ernesto Mello Júnior, Ariosto Guimarães, Ari Vieira Barbosa, Álvaro Moraes Barros, Oscar de César Matos, Quintino Barroso Rato, Waldo e Muriel Silveira, Hans Meyer, Alfredo de Oliveira Santos, o Fumaça, e o Altino Carvalho, do Cartório de Protestos.
Os que ainda estão vivos podem provar que na Ponta da Praia do final da década de 1.920 só existiam a Avenida Bartolomeu de Gusmão e a Avenida Rei Alberto I. Essa última nascia na Avenida Bartolomeu de Gusmão, fazia uma curva por trás da Escola de Aprendizes de Marinheiro (hoje Museu de Pesca) e terminava no ferry-boat, onde uma única balsa, bem menor do que as de hoje, garantia o acesso a Guarujá. E a tal balsa dava conta do recado muito bem, diga-se de passagem.
E essa avenida que cresceu com o bairro não tinha mais do que uns seis metros de largura, e ostentava enormes valas nos cantos. Mais: naquele saudoso tempo a Prefeitura cuidava bem das vias públicas, pois mantinha dois funcionários exclusivamente para fazer a manutenção da Rei Alberto.
Isso mesmo, dois homens para conservar aquela que era a única pista de acesso à balsa. O preto Gregório e o português Joaquim trabalhavam diariamente, das 7 às 16 horas, e tinham a cautela de tapar com pedregulhos qualquer buraquinho que surgisse. O Gregório, além de conservar a pista, vivia armando laços para pegar gambá e lagarto. Esses bichos eram tão comuns quanto o mato que avançava Macuco adentro. Quantas vezes "seu" Gregório não almoçou gambá assado? Não se sabe como aguentava o cheiro, mas uma coisa ele afirmava: valia a pena a tortura, porque a carne é tão boa quanto a de galinha.
Um bairro quase desabitado, uma escola imponente e o saudoso Vasco da Gama - Pois naquela Ponta da Praia desabitada, tranquila e praticamente isolada, se destacava o imponente prédio da Escola de Aprendizes de Marinheiro. A Marinha iniciou a construção em 1.908 e, a 5 de maio do ano seguinte, a unidade foi inaugurada. Dois pavimentos, rija, majestosa, como chamava atenção a escola!
Um retrocesso: num tempo em que nenhum cristão vivo poderia lembrar (mas os livros estão aí para não deixar a história se perder), bem ali onde foi construída a escola ficava o Forte Augusto, que cruzava fogo com a Fortaleza Velha (do outro lado do canal, na Praia da Pouca Farinha). Quer dizer, chamar de forte poderia ser até um exagero, pois não passava de uma murada de pedras, armada com peças de artilharia.
O Forte Augusto, vá lá, entrou em atividade a partir de 1.734, mas acabou em ruínas e foi desativado em fins do século XIX.
Voltemos à Ponta da Praia de fins da década de 1.920. Entre as avenidas da praia e a Rei Alberto I ficava o Hotel Carlino, o único lá para aquelas bandas. Nessa segunda avenida, não havia nada além do hotel, uma Estação Rádio-Telegráfica e um estábulo, onde a criançada bebia leite fresquinho, tirado na hora.
De frente para a praia, as construções também eram pouquíssimas. Entre elas, deixou muitas saudades o barzinho de "seu" Salu e dona Elsa, que ficava pegado ao Hotel Carlino. Aos domingos, ela caprichava no almoço e a moçada que treinava no Saldanha ia toda para lá. Comia, conversava e adorava aquele casal.
Nos fundos do bar, com entrada pelo lado, havia um conjunto de cinco ou seis casas. Seguindo em direção ao ferry-boat se deparava com a majestosa escola, que contrastava com o barracão de madeira, sede do Saldanha, que existia logo depois. No mais, a casa do prático Quíncio Peirão e dezenas de chácaras de japoneses, que ocupavam todo o restante da área, até o atracadouro da balsa.
E saibam que essas chácaras abasteciam toda Santos de verduras. Dava gosto ver as plantações dos japoneses sempre viçosas, bem cuidadas.
Campos de várzea não faltavam, e quem consegue esquecer o glorioso Esporte Clube Vasco da Gama, o Vasquinho? Tinha seu campo "particular" na atual Rua República do Peru. E a Diná Rentróia, recolhendo velhas histórias do pai, conta: "Era um campo rodeado de valas de águas limpas (juro) onde a criançada pegava peixinhos. Sobre essas lembranças estão as atuais mansões imponentes, vizinhas do rei do futebol, Pelé. Os artilheiros do Vasquinho, hoje respeitáveis avós, jamais esquecerão isso".
As brincadeiras no mar, as festas juninas e os bangue-bangues de Rogers -  E os garotos da época que passaram a infância no Saldanha também não esquecem muita coisa. O clube brilhava, tinha grandes remadores e nadadores e ostentava entre os integrantes de sua equipe ninguém menos que o ex-campeão sul-americano de saltos ornamentais, Herman Palmeira Martins, o Maninho, e sua esposa Lourdes, ex-campeã brasileira na mesma categoria.
A meninada de 14, 15 ou 16 anos nadava feito peixe e se divertia jogando bola em pleno mar. Entre uma braçada e outra, a bola rolava de mão a mão, sob o comando decidido de Ariosto Guimarães, o grande ídolo da turma.
Mas quem conta outras boas histórias da Ponta da Praia de antigamente é a Diná. Em conversa com ela, o pai reconstituía muito da vida do bairro, da dele e da sua.
Ele chegou a Santos com 17 anos, num dia de Natal, isso jamais esqueceu. Veio da Ilha da Madeira, Portugal, morou em vários lugares em curto espaço de tempo, fez um pouco de tudo e se fixou na Ponta da Praia.
Lá, primeiro foi condutor de carro de boi. Depois, dono de estábulo. Na vacaria do "seu" Rentróia tinha um pouco de tudo: galinhas, patos, porcos, verduras. E de todos os lugares vinham os fregueses, amigos que voltavam sempre, como recorda a Diná.
Os documentos, testemunhas fiéis que ela guarda até hoje, comprovam o rigor da fiscalização: carteira profissional de condutor de carro de boi (1.929); carteira de habilitação para dirigir carro de boi - cocheiro urbano (1.939); e registro de comércio ambulante de leite (1.940). Ela acrescenta mais: "Os fiscais sempre davam muito trabalho no controle da água misturada ao leite, e às vezes, "por descuido", era melhor perder toda a mercadoria do que pagar as pesadas multas. E o produto era todo esparramado no chão".
A família morava na atual Avenida dos Bancários, naquele tempo nem avenida nem rua: uma grande chácara de japoneses. Para se alcançar o Canal 6, era preciso seguir pela praia ou pedir licença para passar por baixo dos machucheiros e ir cuidadosamente se esquivando dos enormes cachorros e evitar os temidos tiros de sal. Qualquer estranho poderia ser um ladrão, portanto todo cuidado era pouco.
Festas juninas? Bem, estas eram compartilhadas com amigos de bairros "longínquos", como Macuco e Aparecida. E Diná não esconde a saudade dessas festas, comemoradas de pé no chão, na terra da Praça Coração de Maria, com bandeirinhas amarradas em bambus colocados onde hoje estão os postes dos trólebus.
Ela recorda, ainda: "A música era ao vivo, com sanfona, violão, cavaquinho e o que viesse... E como tinha músico! Só não podia chover. E a chuva era o que mais temíamos no dia de cinema, cortesia do Sesi. No telão (um enorme lençol) montado na rua e sentados em cadeiras trazidas de casa, assistíamos aos bangue-bangues de Roy Rogers".
Diná nasceu, cresceu e viveu na Ponta da Praia. Uma vida povoada de histórias que o pai José Rodrigues contou. Jamais esquece quando ele se referia à árvore que ainda está em frente ao Clube de Regatas Vasco da Gama. Só esta árvore e a velha escola para marinheiros restaram intactas da Ponta da Praia de antigamente.
O povo inaugura linha de bondes e um navio horroriza a comunidade - Embora já em 1.926 a Câmara tenha aprovado o projeto de abertura da Avenida Afonso Pena, que iria ligar a Avenida Conselheiro Nébias ao Estuário, só uns 10 anos depois começa a ser criada a maior parte das ruas da Ponta da Praia. A ocupação residencial aumenta, chácaras são subdivididas e, em 1.939, começam a surgir casas ao longo do Estuário.
Quem não se lembra dos bondes 4, 13 e Rápido? Todos iram para a Ponta da Praia, mas a história mais interessante fica por conta do bonde 19. Embora o prolongamento dos trilhos até a Afonso Pena estivesse concluído, o início da circulação foi protelado pela Cia. City. Os moradores não deixaram por menos: no dia 17 de setembro de 1.937, às 18 horas, tomaram o bonde de assalto e obrigaram o motorneiro a seguir até o final da Afonso Pena. O povo simplesmente inaugurou o prolongamento, sem esperar discursos, foguetórios ou coisa que o valha.
Dos casos mais recentes, um que ninguém esquece fica por conta do russo Vladimir Grieves e seu hotel flutuante para curtas estadas. Ele aproveitou o antigo navio de passageiros Carl Hoepeck, mudou o nome para Recreio, transformou as cabinas em quartos, montou sala para jogos, instalou iluminação especial e horrorizou a comunidade santista com tanta ousadia.
Mas o russo nem ligava, até que um dia um vendaval fez o velho navio encalhar. Tentaram removê-lo, mas só conseguiram aproveitar a proa, usada depois na construção do navio Baleia Branca.
Ponta da Praia em 1927: quase desabitada, com apenas duas vias abertas,
chácaras e campos de várzea
http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0100b09.htm

Foto: Acervo José Carlos Silvares/Santos Ontem
Poucos santistas ainda lembram do tempo em que Santos teve seu hipódromo com funcionamento regular, instalado na então Ponta da Praia, em área que seria depois reenquadrada como pertencente ao bairro de Aparecida e mais tarde ocupada por um conjunto habitacional, um centro comercial e instalações da Previdência Social. Ele pode ser visto neste antigo cartão postal, de cerca de 1.940 (o circuito que aparece no canto superior direito). Embora, meio século depois da extinção do clube, muitos até duvidem de que tenha existido, a história está lá, nos antigos jornais santistas, inclusive contando que a estréia foi adiada por uma semana para que o então presidente (cargo equivalente ao do atual governador) do Estado de São Paulo, Altino Arantes, pudesse comparecer - e mesmo assim ele não esteve presente: acabou enviando um representante. Até um trem especial da São Paulo Railway foi programado para transportar os paulistanos a Santos, no dia da inauguração.
Os elogios só murcharam ao se lembrar das falhas no serviço de bondes urbanos. Mas não estranhe o leitor esse tom de elogio rasgado, nas notícias da época: menos de um mês depois, apareciam as primeiras críticas na imprensa, também fortes, em razão do Jockey Clube de Santos não fazer como outros clubes, oferecendo ingressos de cortesia para sócios de clubes co-irmãos e à imprensa. Também foi noticiada depois a suspensão por alguns páreos de diversos jóqueis, por infrações ao regulamento das corridas nesse dia inaugural.

Sport Turf
Da nossa colega A Gazeta, de São Paulo, transcrevemos a seguinte notícia:
"A corrida inaugural de Santos - A julgar pelo entusiasmo reinante em nossos meios esportivos, a corrida de domingo próximo no prado da Ponta da Praia, em Santos, vai ter um brilho notável. Entre os apaixonados do turfe não se fala de outra coisa, aguardando todos, com enorme ansiedade, a realização do meeting inaugural na vizinha cidade.
Os book-makers, que ontem iniciaram as suas operações, têm estado, por isso, freqüentadíssimos. Por aí se pode medir o entusiasmo que neste momento empolga os nossos turfmen. Quando o Pintinho, às 13 horas, fez inscrever na pedra da Casa Ideal as cotações dos diferentes parelheiros que concorrem aos prêmios do programa, era avultado o número de pessoas interessadas por saber quais seriam os favoritos da cátedra (os book-makers são a cátedra...). E não mentimos dizendo que desde logo se fez bastante jogo. Half Sister, por exemplo, encontrou, de pancada, comprador para 50 poules em suas patas a 100/10...
De acordo com as cotações de abertura, são favoritos: Ditosa, Bohemia e Veloz; Poker e Kevi-Kevi; Gorizia, Wolvey, Scutari; Ben-Linton e Brasil.
- Lydio dos Alves montará em Santos os animais que defendem as cores do stud Alves e Bueno.
- A Associação dos Cronistas Sportivos vai estabelecer para as corridas de Santos um concurso de palpites, baseado no regulamento dos concursos passados.
A caravana esportiva - Para maior facilidade na condução dos srs. turfmen que irão a Santos presenciar a corrida inaugural da temporada, o Jockey Club de Santos conseguiu da diretoria da S. Paulo Railway um trem especial que partirá de S. Paulo às 9,45 horas, devendo sair de Santos às 17,45 horas.
Para esse trem as passagens custarão apenas 6$500, ida e volta.
Para os turfmen que pretenderem o direito à entrada em Santos, a passagem custará, com essa regalia, a importância de 10$000. As senhoras não pagarão entradas.
Além do trem especial acima aludido, partirão os seguintes trens para Santos, no horário ordinário: 6 horas, 8 horas e 10 horas. Haverá mais um trem, além do especial, para a volta".
http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0244.htm


Na foto: Sra. Úrsula Syndall, montando "Infante", quando disputava a "Taça Equipe"
Reprodução do original
"Taça Equipe"
A equipe formada por João Alves Toledo e Humberto Gruber venceu novamente essa prova, montando Charles e Colorado, respectivamente.
Teve um transcorrer dos mais atraentes a segunda disputa da taça "Equipe", levada a efeito domingo último, na pista do Clube Hípico de Santos.
Público numeroso e seleto lotou as dependências do fidalgo grêmio, aplaudindo, indistintamente, os cavaleiros empenhados na liça.
Era essa a segunda vez que a taça "Equipe" estava em jogo. Como da primeira vez, voltaram a vencer os srs. João Alves Toledo e Humberto Gruber, a mesma equipe que ergueu o troféu, quando da sua inicial disputa.
"Charles" foi o cavalo montado por João Alves Toledo e "Colorado" a montaria de Humberto Gruber.
Os vencedores executaram o percurso em magnífica forma, demonstrando notáveis progressos.
Em segundo lugar colocou-se a equipe formada pelos srs. Darci Stockler e P. L. Corvelo, montando "Curioso" e "Diep", respectivamente.

http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0244.htm

"Boi no canal! Eh, boi! Vem ver, tem um boi no canal, olha lá os bombeiros, no barco! Vão laçar o boi! Ele fugiu, tá indo pro mar!" - Dessa forma, aproximadamente cinco mil pessoas acompanharam os lances da fuga de um boi, do Estádio Ulrico Mursa, e que caiu no canal da Avenida Pinheiro Machado e teve que ser levado até a praia. Peões do rodeio que se vinha apresentando naquele estádio, com auxílio de bombeiros e policiais, acabaram proporcionando verdadeiro espetáculo à multidão, que se juntou para ver os trabalhos de resgate, enquanto grandes congestionamentos de trânsito se formavam em toda a extensão da avenida.

Tudo começou às 9 horas, quando o boi Semblante, da Companhia Furacão de Rodeios, que se apresentou nestes últimos três dias no Estádio da Associação Atlética Portuguesa Santista, fugiu ao ser levado para um caminhão de transporte de animais que fora colocado à entrada do campo, e caiu dentro do Canal 1.
O fato imediatamente chamou a atenção de populares, que começaram a se aglomerar de ambos os lados do canal. Motoristas abandonavam o carro na avenida para ver o espetáculo, juntando-se às crianças.
Geraldo Magela Dami, capataz dos peões do rodeio, passou a dirigir os trabalhos, em uma fracassada tentativa de puxar o boi com cordas. Semblante pesa 400 quilos e as cordas de segurança com que foi amarrado não resistiram: às 9h30, após quase ter saído do canal, caía novamente arrebentando a corda. Foi quando decidiram pedir ajuda ao Corpo de Bombeiros.
Às 9h45 chega a viatura da Rádio Patrulha, prefixo 4.005, os PMs Romão e Isaías haviam sido chamados para atender a uma desinteligência: os peões ficaram nervosos com os constantes palpites do pessoal que assistia. Houve uma pequena briga, mas logo foi separada.
Os trabalhos continuavam. Ivani Cândido, um peão cuja camisa justificava seu apelido Camisa Vermelha, mostrava um corte na perna, sangrando, produzido por uma corda, que se enrolara, quando ele procurava içar o boi do canal. Dizia: "A primeira vez que ocorre algo semelhante. O boi se jogou no canal, devido ao forte calor, não aguentou. Boi gosta muito de água, por isso ele fez isso".
Faltando cinco minutos para as 10 horas, chegava a guarnição de salvamento AS-17 do Corpo de Bombeiros, comandada pelo cabo Passos, trazendo um bote. Já era grande o congestionamento de ambos os lados da Avenida Pinheiro Machado e imediações. A primeira pergunta dos bombeiros foi: "O boi é manso?" Os peões responderam que sim. Durante alguns minutos, peões e bombeiros trocaram idéias sobre como remover o animal, concordaram que içar Semblante poderia feri-lo. Para suspendê-lo com um guincho, ficaria muito caro. Assim, resolveram que o boi seria levado até a praia, por dentro do canal, e de lá trazido para terra. Começava o melhor do espetáculo, para a delirante criançada.
Às 10 horas, os bombeiros desciam o barco salva-vidas e o colocavam no canal, procurando cercar o boi. A corda que já estava presa em Semblante foi amarrada ao barco: para um bombeiro ir na frente, remando e puxando o boi, enquanto um outro iria atrás, cutucando-o e empurrando-o. Na primeira tentativa, entretanto, o boi passou à frente do barco e os bombeiros modificaram o método: ambos iriam dentro do bote, puxados pelo boi, que avançava ao ser espantado e cutucado com o remo. A gargalhada era geral entre os assistentes, chegando alguns a comentar: "Aonde o boi vai, o bombeiro vai atrás".
Naquele trecho, o Camisa Vermelha tentou agarrar o "astro do espetáculo", que entretanto se assustou e fugiu, não sem antes causar novo e espetacular tombo, desta vez do próprio Camisa Vermelha, o que causou gargalhadas e aplausos.
Às 11h10, o boi atingia a linha férrea, após algumas dificuldades. Dez minutos depois chegava ao último trecho do canal, entre a avenida e o mar. O trânsito foi interrompido nas avenidas Presidente Wilson, Floriano Peixoto e Pinheiro Machado, pelo público que corria por entre os carros, procurando ver o boi. Os peões, junto à última ponte, próximo ao mar, prepararam uma emboscada: queriam laçar o boi, para que este não fugisse, ao entrar no mar. O animal percebeu: apesar de os bombeiros tentarem impedir, começou a voltar, passando pela Presidente Wilson, em direção à Floriano Peixoto.
Com muito custo, bombeiros e peões conseguiram afugentar Semblante em direção ao mar, que correndo ludibriou a todos e entrou na água, afastando-se da praia em direção à Ilha de Urubuqueçaba. Banhistas, bombeiros e funcionários do rodeio nadaram atrás dele, dominando-o aproximadamente a duzentos metros da Praia do José Menino.
Amarrado, Semblante foi conduzido à praia e arrastado em direção ao passeio junto ao Canal 1. Empurrado por três homens e puxado por mais dez, o boi foi colocado em um trecho elevado do passeio.
Faltando cinco minutos para o meio-dia, em rápida operação, o boi era colocado no caminhão. Terminava o espetáculo. A multidão começou a se afastar comentando os episódios da captura de Semblante. Embora cansados, os peões do rodeio - vindos de Barretos, Penápolis, Araçatuba e até do Paraná - descansavam um pouco, antes de se retirarem.
O rodeio gratuito e inesperado terminara, mas eles sabiam que à noite o Estádio Ulrico Mursa estaria lotado, para assistir ao espetáculo. Nessa noite novamente ofereceriam vinte mil cruzeiros para quem conseguisse montar o touro Veludo. Novamente se apresentariam duplas caipiras e outros espetáculos durante os intervalos do rodeio. Mas o melhor do espetáculo, "inesperado presente de Natal às crianças santistas", já havia ocorrido, durante aquelas três horas, com o boi fugido.
Carlos Pimentel Mendes
Fotos: Arnaldo Giaxa
http://www.novomilenio.inf.br/santos/lendasnm.htm



Fontes : além das já citadas






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