sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Os prédios tortos de Santos


Pelo seu caráter litorâneo e pelo fato de ter sido construída em parte sobre antigos terrenos de manguezais, a cidade de Santos tem um perfil de solos dos mais difíceis no país para a construção de fundações. Por este motivo, uma série de edifícios foram erigidos ao longo do século XX (especialmente a partir da década de 1.960) com fundações executadas a partir de equívocos de sondagem ou de projeto. A especulação imobiliária surgida com a explosão do veraneio em Santos foi a responsável por tais erros, já que os edifícios eram construídos rapidamente para abrigar muitos veranistas.
Com o tempo, tais edifícios passaram a sofrer acentuados recalques diferenciais: tornam-se "tortos" (ou seja, perdem o prumo) aos olhos dos pedestres situados na praia. Recentemente os "prédios tortos" da orla de Santos estão virando atração turística: são cerca de 90 prédios com esta característica. Estão concentrados na orla do Boqueirão, Embaré e Aparecida.
O reaprumo ou a implosão e reconstrução são soluções possíveis. A primeira opção, menos impactante que a segunda, já foi executada com sucesso no edifício que era considerado o mais inclinado da orla (o denominado 'Núncio Malzoni', no bairro do Boqueirão), o qual tinha mais de 2 metros de inclinação do topo em relação à base (a inclinação da Torre de Pisa na Itália, é de aproximadamente 4 metros). Nesse sentido, a prefeitura busca, junto ao governo federal, uma linha de crédito especial para resolver esse problema tão específico de Santos.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Santos

Viver em um prédio inclinado gera vários problemas aos moradores. Portas e janelas corrediças precisam de travas para permanecer paradas e mesas precisam de calços para ficar niveladas. “A gente compensa parcialmente nivelando o piso do apartamento. Enche de um lado, descasca do outro. A mesa de jantar da minha sala foi feita sob medida para o apartamento. A base no chão já é adaptada para aquele local. Se eu colocar em um apartamento normal, ela fica torta”, conta Ungaretti.
O problema no prédio foi descoberto há mais de 20 anos, segundo ele, e estava piorando. Por isso, os moradores decidiram investir em uma solução de engenharia para, ao menos, estacionar a inclinação. “Para parar esse processo, foi feito um trabalho em que se congela a água na parte mais baixa do prédio. A água expande quando congelada, e isso fez com que o prédio parasse de inclinar. Com isso, fizeram uma sustentação mais forte neste lado inclinado.
Há mais de dez anos que esse declive não aumenta, até houve uma leve melhora”, explica.
Ungaretti conta que os moradores possuem uma atualização regular sobre a infraestrutura do edifício. “A cada bimestre temos um estudo completo do que acontece no prédio. Se aparecer uma rachadura a gente fica sabendo”.
Segundo Ungaretti, a inclinação do prédio é assunto frequente nas reuniões de condomínio. “Arrumar o prédio custa muito caro.
Pegamos como exemplo o (edifício) Núncio Malzoni. As pessoas gastaram quase o valor do próprio apartamento para endireitar o prédio”, afirma.
Segundo o secretário de Infraestrutura e Edificações, um plano de engenharia para resolver o problema ainda não foi adotado. “As soluções deverão ser apontadas a partir dos laudos específicos. A prefeitura irá prestar assessoria e fará o acompanhamento do processo”, diz Barreiro.
Uma das soluções apontadas pelo engenheiro Marcão seria o macaqueamento do prédio, quando cilindros hidráulicos trazem o imóvel de volta ao nível original. “Esse procedimento pode ser adotado junto com a execução de um reforço nas fundações por estacas. Não existe risco, mas é recomendável que o prédio seja evacuado. A intervenção pode levar em torno de um ano".
Além dos estudos, a prefeitura estuda estímulos econômicos para realinhar os prédios da orla santista. “A intenção é discutir com a Câmara a criação de incentivos fiscais que estimulem os proprietários a realizarem a recuperação dos prédios e, ainda, conseguir com a Caixa Econômica Federal a abertura de linha de financiamento própria para tais obras”, diz o secretário.
Enquanto isso não acontece, os representantes dos condomínios que sofrem com o problema começam a se mobilizar. “Sempre há uma esperança. Ninguém quer seu prédio desvalorizado, com ninguém querendo morar nele. Às vezes as pessoas não investem no próprio apartamento por causa da desvalorização do imóvel”, diz Ungaretti.
Apesar do boom imobiliário e do crescente número de construções na cidade, os recentes lançamentos não sofrem do problema, segundo o secretário de Infraestrutura e Edificações.
“Hoje, a metodologia para as obras de fundação não é a mesma que foi usada na construção dos prédios das décadas de 1.950 e 1.960, em que aconteceu a maioria dos casos. Para que um prédio seja construído, a prefeitura aprova os projetos de acordo com a lei de uso e ocupação do solo, o código de edificações, e analisa as leis municipais, estaduais e federais em vigor. As empresas fazem sondagens que indicam qual a melhor fundação para cada tipo de edificação", explica.
http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2012/06/moradores-dos-predios-tortos-de-santos-sofrem-com-desvalorizacao.html

O solo de Santos é o segundo pior do mundo, inferior apenas ao da Cidade do México. O solo da cidade é formado de oito a 12 metros de camada de areia medianamente compacta, seguida de 20 a 40 metros de uma camada de argila marinha, podendo depois ter outra faixa de areia ou não, e por último uma camada dura (formada por rochas) que varia de 40 a 50 metros. 
Para saber a resistência do solo é feito um relatório de sondagem. Retira-se uma amostra de cada camada, que é levada para um laboratório, onde se detecta o tipo de fundação a ser feita.
Há dois tipos de fundações: rasa (em que se utilizam sapatas), quando se tem um solo que suporta a carga dos pilares, e profunda (onde geralmente se utilizam estacas) quando o solo é menos resistente. 
O custo de uma fundação profunda é três vezes maior do que o de uma rasa, mas às vezes esse recurso é inevitável. É em função disso que muitos economizam quando não devem e esse é um dos motivos que faz com que os prédios da orla da praia sofram as inclinações com o passar dos anos. Em alguns pontos da Cidade, o terreno argiloso é o responsável pelos recalques dos prédios mais antigos, que não foram construídos sobre fundações profundas. Na verdade, o processo de estaqueamento de vigas de concreto, até atingir a camada fragmentada do solo (cerca de 60 metros abaixo), sempre recebeu resistência por parte da maioria dos construtores santistas. 
Para economizar menos de 10% do custo total da obra, eles preferiram utilizar o processo de fundação direta, que prevê a colocação de camadas de concreto sobre a faixa de areia (sapatas). 
Especialistas em fundações explicam que, mesmo sem sofrer rupturas, a primeira camada de areia comprime a argila marinha, provocando a inclinação das estruturas.

O maior problema, então, não é o afundamento do prédio em alguns milímetros, mas o recalque diferencial, causado pela concentração de cargas em um dos pontos do edifício. 
Quando um prédio é construído fora dos padrões exigidos, e ergue-se um edifício vizinho, este por sua vez acaba influenciando ao ponto de forçar o outro a entortar.
É que os chamados bulbos de pressão, que se formam em cada prédio, juntam-se aumentando a carga, e a tendência é a aproximação destes edifícios. 
Entretanto, hoje existem técnicas das mais diversas para se recuperar os danos causados nessas construções, como ocorreu no Edifício Excelsior. "Antigamente, de tão inclinado, o elevador deste prédio parava no oitavo ou nono andar, não subindo até o fim", esse problema foi sanado e a inclinação do prédio hoje está estabilizada.
O recalque dos prédios em Santos, por ano é mínimo, porém não se descarta a possibilidade de que caiam, mas isso duraria muito mais de 50 anos para acontecer. 
Duas características chamam a atenção dos turistas em Santos: os jardins da praia e os famosos prédios tortos. Não há quem passe na orla marítima sem perceber a inclinação de muitos edifícios. A maioria se encontra na Avenida Bartolomeu de Gusmão (entre a Avenida Conselheiro Nébias e o canal 6). São eles os edifícios Nuncio Malzone, 14; Excelsior, 22; Marazul, 53, Íris, 60 e Maembi, 65. 
Mas há quem brinque com a situação. O zelador do prédio Malzone, Manoel Lourenço, sugere ironicamente a cobrança de ingressos para ver os prédios, lembrando a Torre Di Pisa que faz tanto sucesso na Itália. Manoel diz que os moradores acabam se acostumando com isso. "Faz 12 anos que moro aqui. No começo eu estranhava, pois não podia encher a xícara de café até a borda senão o líquido acabava derramando. Agora eu não percebo mais". 
Porém, há aqueles que se acostumam rapidamente, como é o caso do zelador do Edifício Íris, Olívio Barreto. Ele mora há seis meses no último andar e comenta alguns fatos engraçados.Entre eles, de bolinhas de gude que saem correndo para o lado da inclinação e o de pessoas que não estão acostumadas e quando vão ao corredor acabam andando inclinadas. Os moradores do prédio Maembi solucionaram esses problemas nivelando os pisos dos apartamentos. "Assim os móveis não correm", afirma José da Cunha, auxiliar de zelador. 
Há aqueles que não gostam ou não "podem" falar sobre o assunto. É o caso da faxineira do Prédio Excelsior, que não quis se identificar. Ela diz que o zelador várias vezes a repreendeu por comentar esses fatos com outras pessoas. Mesmo assim, ela conta: "Fazer faxina é um horror, pois a água vai toda para o mesmo lado, até no andar térreo". O zelador do Excelsior, Fernando Pereira, desmente: "Tudo está normal". 
O proprietário da Academia de Ginástica Progressão, Tácito Pessoa, que funciona no Excelsior, mas na área voltada para a Avenida Siqueira Campos, diz estar no local onde há menos inclinação. Ele afirma que foi preciso nivelar o piso, mas, mesmo assim, há um canto da sala em que o peso de fazer exercícios, às vezes, sai rolando. 
Realinhamento dos Edifícios
Em Santos, no ano de 2.000, o Edifício Núncio Malzoni, com uma inclinação de 2,10 metros, foi realinhado, essa foi a primeira vez no mundo que um prédio com recalque foi posto em prumo. O prédio localizado na Avenida Bartolomeu de Gusmão, 17, teve sua estrutura arqueada entre 0,5 e 1 centímetro por dia. 
O projeto de reaprumo do prédio, desenvolvido pelos professores Carlos Eduardo Moreira Maffei, Heloísa Helena Silva Gonçalves e Paulo de Mattos Pimenta, do Departamento de Engenharia de Estruturas e Fundações da Escola Politécnica da USP, considerado inédito no mundo, foi visitado por engenheiros de diversos países como México, Canadá e Japão, e até por um dos engenheiros responsáveis pela solução adotada na Torre de Pisa, que veio conhecer a técnica utilizada. 
Para corrigir o recalque estão foram colocados 14 macacos pneumáticos de alta potência nas laterais do prédio. Estes equipamentos receberão pressão variável de até 900 toneladas para erguer a estrutura. 
No entanto, para fazer o monitoramento de todo o prédio, inclusive dos apartamentos, os moradores tiveram que deixar suas residências durante o dia e retornar à noite. Pois poderiam ocorrer rompimentos de tubulações ou então ser preciso interromper o fornecimento de energia. Além da obra, os construtores teriam que se preocupar com os moradores, o que dificultaria o trabalho. 

O risco de macaqueamento é inexistente, já que os 14 equipamentos receberam pressão capaz de erguer o prédio ao mesmo tempo e em grau maior ou menor de acordo com a inclinação de cada ponto. 
Se não fosse feita a obra de recuperação da estrutura, o Núncio Malzoni teria uma vida útil de mais sete anos. 




Hoje em dia, o prédio está totalmente reaprumado. 
Matéria compilada do site Novo Milênio: http://www.novomilenio.inf.br
Postado por João Farias.
http://joaofarias03.blogspot.com.br/2010/07/os-predios-tortos-de-santos.html


Fontes : além das já citadas


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